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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Amamentação prolongada: essa foi a minha escolha

Desde o dia em que me descobri grávida, tive duas certezas: queria que meu filho nascesse da forma mais natural e amamentar o quanto fosse possível. O primeiro objetivo foi alcançado, não sem esforço e alguma briga. O segundo começava a se realizar imediatamente após o primeiro.

Não sei se tive sorte, ou se o fato de querer muito uma coisa colaborou para que acontecesse, mas o fato é que não tive grandes problemas para amamentar. Doeu um pouco, os bicos dos seios tiveram algumas rachaduras, mas tudo foi superado.

Nunca achei que meu leite fosse fraco. Muito pelo contrário. A Bia engordava, crescia e se desenvolvia a olhos vistos. Aos quatro meses, mal podíamos ver seu pescoço, de tão rechonchuda.

Manter a amamentação exclusiva até o sexto mês foi um dos primeiros desafios, tamanho o número de pessoas que me diziam: “Dá uma água para essa menina! Com esse calor, ela deve estar com sede. Deve ficar com fome, só mamando”. Pura bobagem! Suas três horas de sono eram sagradas entre as mamadas, chegando a dormir seis, sete horas de madrugada. Meu seio a saciava.

Completamos 1 ano, 1 ano e meio, 2 anos de amamentação. Poucas pessoas me elogiam por isso, a maioria me critica. Para mim é indiferente, não a amamento para que outros me elogiem. Amamento até hoje por que essa foi a minha escolha.

Com 2 anos e quase dez meses, a Bia esbanja saúde. Nunca teve diarreia, nunca ficou internada, não tem nenhum problema respiratório nem alergias. E quem a conhece sabe que é uma criança extrovertida, segura e sociável, a despeito do que falam sobre crianças que mamam até tarde.

Como a amamentação prolongada foi uma escolha minha, não passa pela minha cabeça recorrer a métodos drásticos para que ela desmame (como uma vez me sugeriu um ginecologista: “Passa buscopan no bico do seio” – e eu até hoje não me lembro de ter reclamado de amamentação para ele).

Mas já há algum tempo venho conversando com ela, explicando que ela já está mocinha, que daqui a pouco o tetê vai acabar. Sim, por que amamentar cansa. E isso não é uma reclamação, é a constatação de um fato. Não posso passar a noite longe da Bia, por que quase sempre ela mama de madrugada. Mas encaro tudo isso da seguinte forma: quando ela parar de mamar, será para o resto da vida.

Eis então que a Bia quis dormir na casa da avó paterna. Ficou aquele receio, de que ela fosse chorar de madrugada, mas partiu dela, não seria eu a boicotar tamanha demonstração de independência. E ela dormiu. Dormiu a noite toda. Segundo a minha sogra, ela chamou por mim, mas não pediu para mamar. Quem não dormiu fui eu. Coisas de mãe.

Depois disso, percebi que ela estava mamando menos de madrugada. E no último sábado, minha filha quis de novo passar a noite na vovó. Ela havia passado o dia todo sem mamar, dormiu na avó e só mamou no domingo, depois das quatro da tarde.
Vejo isso como um caminho que ela mesma está traçando. Largando o mamá aos poucos. Como eu sempre quis, a iniciativa está partindo dela.

Essa situação me enche de orgulho. Dela e das minhas escolhas. Amamentar, para mim, sempre foi um gesto de amor. Respeitar o tempo e a vontade da minha filha é continuar coerente com esse pensamento. Amar e respeitar os limites da minha cria: essa foi a minha escolha.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Nascidos de cesariana têm maior risco de obesidade

Da Agência USP de Notícias - Rosemeire Soares Talamone, do Serviço de Comunicação Social do Campus de Ribeirão Preto - imprensa.rp@usp.br
Pesquisa com 2.057 pessoas de 23 a 25 anos de idade, nascidas na cidade de Ribeirão Preto (interior de São Paulo), aponta que as chances dos que nascem de parto cesariana ficarem obesos na fase adulta são 58% maiores do que quem nasce de parto normal. Segundo a autora do estudo, Helena Ayako Sueno Goldani, a possível causa desse índice é a alteração no desenvolvimento ou na composição da microbiota intestinal que é diferente nas crianças que nascem de parto vaginal com relação as crianças que nascem de cesariana. O estudo foi coordenado pelo professor Marco Antonio Barbieri, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
Helena explica que, no parto cesariana não acontece o contato do bebê com a flora vaginal materna. Este contato, diz a pesquisadora, parece ser importante para o desenvolvimento da flora intestinal do recém-nascido. A pesquisa levantou a hipótese de que algumas bactérias presentes no canal do parto teriam efeito benéfico por meio de uma estimulação balanceada do sistema imunológico do recém-nascido. “Com isso a criança tem afetado o seu metabolismo de acolhimento e de armazenamento de energia e, consequentemente, podem ter um impacto sobre o desenvolvimento da obesidade”, revela. Os resultados do trabalho acabam de ser publicados na revista científica The American Journal of Clinical Nutrition Editorial Office.
Helena utilizou dados de um grupo de pessoas, nascidas entre junho de 1978 e maio de 1979, que fizeram parte do projeto de pesquisa de estudo de coortes (estudo de um grupo de pessoas seguidas de um período determinado tempo), com coordenação geral do professor Barbieri. No total a coorte tinha 6.973 recém-nascidos, cujas mães residiam na cidade naquele momento. No momento do parto foram coletados dados das mães e dos filhos, incluindo histórico médico e antropométrico. Desses 343 morreram antes de completar 20 anos.
Entre abril de 2002 e maio de 2004, ou seja, entre 23 e 25 anos de idade, 2.103 componentes do grupo foram selecionados e convidados para uma nova avaliação, onde foram coletados dados sobre estilo de vida, inclusive a prática de exercício físico, além de responderem questionário socioeconômico, novo exame físico e avaliação antropométrica. Helena utilizou dados de 2.057 dessas pessoas.
A pesquisadora justifica a importância de se pesquisar essa relação, pois outros estudos já revelaram que alterações na microbiota intestinal podem estar ligadas a algumas condições inflamatórias crônicas comuns no mundo ocidental, entre eles a obesidade, alergias, doença de Crohn e até a diabetes tipo 1. “Alguns estudos já mostraram que a presença de bactérias intestinais durante os três primeiros dias de vida foram influenciadas pelo tipo de parto. Por meio de biologia molecular de amostras fecais de crianças nascidas por cesárea ficou evidente uma ausência substancial de bifidobactérias e isso pode ter um impacto significativo sobre as funções imunológicas do bebê”.
Perfil
A média da idade das pessoas analisadas no estudo de Helena foi de 23,9 anos e o peso médio era de 69,7 kg. A taxa de cesariana do grupo foi de 31,9%, realizado principalmente em grupos de melhor nível socioeconômico. No grupo das mães com maior escolaridade a taxa de cesariana chegou a 45,1%. Naquelas com menor escolaridade a taxa de cesariana era de 26,8%. A taxa de prevalência de obesidade nesses adultos jovens nascidos por cesariana foi de 15,2 contra 10,4% nos nascidos por parto vaginal. A pesquisa revelou ainda que a taxa de obesidade foi maior entre os menos privilegiados economicamente. “Não houve diferença nas taxas de prevalência de obesidade de acordo com o peso ao nascer, tabagismo materno durante a gravidez e atividade física do sujeito, sexo e tabagismo”, aponta a pesquisadora.
O orientador do trabalho explica que no total a taxa de obesidade entre esse grupo foi de 46% maior entre os nascidos por cesárea em relação aos nascidos de parto vaginal na análise não ajustada, ou seja, sem levar em conta outros fatores, como peso ao nascer, renda, tabagismo, escolaridade, atividade física e fatores maternos como escolaridade e tabagismo durante a gravidez. “Quando ajustada esse risco subiu para 58%”. Uma curiosidade encontrada nessa pesquisa e que vai ao encontro do que diz a literatura atual, segundo os pesquisadores, foi que não houve relação entre tabagismo materno e alteração no IMC.
Helena lembra que aumento das taxas de cesariana ocorreu em paralelo com o aumento das taxas de obesidade. Na Inglaterra, Suécia e Estados Unidos, por exemplo, passaram de 6%, 8% e 10%, em 1975 para 21%, 16% e 24%, em 2001, respectivamente. Em Ribeirão Preto, onde o estudo foi realizado, a taxa de cesariana aumentou de 30% em 1978 para 51% em 1994, e estava em 44% em 2007. Já a taxa de prevalência de obesidade no Brasil aumentou de 4% em 1974 para 11% em 2006.
“Uma vez que a colonização intestinal pode ter um efeito duradouro na saúde em geral e, ainda, considerando a diferença na flora intestinal e vaginal entre bebês nascidos de cesariana, concluímos que o aumento das taxas de cesariana podem desempenhar um papel fundamental na epidemia de obesidade no mundo”, conclui a pesquisadora.  Também participaram do trabalho os pesquisadores Heloisa Bettiol, Antonio Silva, Marilyn Agranonik, Mauro Moraes e Marcelo Goldani. O professor Marco Antonio Barbieri realiza estudos epidemiológicos de saúde perinatal desde 1978.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Com gosto de vitória

Nem tenho mais coragem de dizer que não tenho tempo para postar...
Desde outubro do ano passado mudei de emprego. Sou repórter do Diário Regional, publicação do ABC. E desde o começo, é claro, queria fazer uma matéria sobre parto humanizado... mas não saia... por tantos motivos que nem vou explicar.
Mas, como um presente de Dia das Mães, ela foi publicada no domingo, me enchendo de felicidade e orgulho. Espero ter conseguido alcançar muitas mulheres que ainda sentem medo do parto normal, que ainda endeusam a cesárea... gostinho de obrigação cumprida, gostinho de vitória. Reproduzo abaixo os textos na íntegra, publicados no Diário Regional do último domingo:

Mulheres apostam no parto humanizado

ALINE MELO
PARA O DIÁRIO REGIONAL




Elas não querem o conforto de hospitais, nem se impressionam com estrelas de TV que aparecem escovadas e maquiadas instantes antes da cirurgia. Em busca de maior protagonismo no momento do parto, um número crescente de mulheres procura atendimento humanizado para o nascimento dos filhos, sem intervenções médicas desnecessárias e com liberdade de escolha.

No lugar de anestesia, optam por massagens e banhos quentes. Ao invés de tomar soro com medicação para acelerar o trabalho de parto, aguardam pela resposta natural dos hormônios que agem durante o processo do nascimento. Esses procedimentos estão presentes no parto humanizado, que de acordo com as gestantes que defendem o método, respeita o tempo da mãe e do bebê.

“Essa concepção considera o parto um processo fisiológico da mulher em que é sujeito da ação de parir e o médico deve ser um facilitador.

Ou seja, a gestante é protagonista”, explicou o diretor de Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas do Ministério da Saúde, Antônio Luiz Telles. “A ideia de humanizar o parto é dar o máximo de conforto à mulher, criando o melhor e mais adaptado ambiente a ela”, completou.

“Sempre acreditei que o melhor fosse o parto normal. Quando engravidei, comecei a me informar. Depois de esclarecer as minhas dúvidas, fui em busca da equipe humanizada para ter a minha vontade respeitada”, afirmou Jacqueline Alves, técnica de informática e moradora de São Bernardo.

Após ter sua primeira filha de parto normal no Hospital São Luiz, em São Paulo, Jac­queline optou na segunda gravidez por um parto domiciliar. “A decisão natural foi ter em casa, sem intervenção. Já sabia como era o processo e o receio das complicações que me fizeram optar pelo atendimento hospitalar da primeira vez não existiam mais”, declarou.

O parto da técnica de informática foi assistido por um obstetra da Capital e sua equipe, com enfermeira e pediatra. Além disso, Jacqueline também contou com a presença de uma doula, profissional que presta apoio físico, emocional e afetivo às futuras mães.

Aline Gerbelli, fonoaudióloga, também viveu a expe­riência de um parto domiciliar em São Bernardo. Para o momento do nascimento, estavam previstas as presenças da médica obstetra e de uma parteira. “Na hora H, não conseguimos contatar a médica. A parteira amparou o Pedro, que estava com o cordão enrolado no pescoço, e foi tudo muito tranquilo”, contou a profissional de saúde.




Doulas e parteiras auxiliam na vinda do bebê

Mesmo com todos os avanços da medicina, a profissão de parteira não está extinta. A atividade também não está restrita aos sertões e Interior do Brasil. São profissionais cuja atuação vai ao encontro do desejo de mulheres que querem ter uma experiência natural na hora do parto.

A parteira Ana Cris Duarte atende em toda região metropolitana e assistiu 50 partos em 2010. Formada pela primeira turma de parteiras na USP em 2008, atuou como doula de 2001 até a formatura. “No início acompanhava dois partos por mês. Em 2008, esse número já havia subido para oito atendimentos mensais”, afirmou.

Além da parteira, outra profissional que atua nessa área é a doula. A palavra vem do grego “mulher que serve”. Nos dias de hoje, aplica-se àquelas que dão suporte físico e emocional a outras mulheres durante e após o parto.

“A mulher deve ter a oportunidade de escolher o que quer do parto. É um momento único, e vai lembrar dele para o resto da vida”, afirmou Geórgia Gazola, que já tem dez anos de experiência profissional como doula. (AM)


Grupos de apoio auxiliam gestante na hora de fazer escolhas

A agenda apertada de médicos particulares é um dos grandes incentivadores da cesárea no país. “A dinâmica do profissional que atende convênio não permite que se ausente por muito tempo de suas consultas. Assim, para manterem a agenda acabam optando pela cesárea eletiva”, apontou Mauro Sancovski, responsável da Clínica Obstétrica da Faculdade de Medicina do ABC.

Para não acabarem em cirurgia desnecessária, mulheres que querem parto normal procuram ajuda em grupos de apoio para gestantes. Sob supervisão de Deborah Delage e Denise Niy, ativistas do parto humanizado, funciona no ABC o MaternaMente. Com reuniões mensais, mulheres (grávidas ou não) se reúnem para debater os assuntos referentes ao parto e a gestação. “Muitas pedem indicação de profissionais, mas a gente não indica. Procuramos mostrar para a mulher todas as opções disponíveis”, declarou Deborah.

“Não sou contra a cesárea. Bem indicada, salva vidas. O que me assusta é que na maioria das vezes a mulher é tolhida de suas escolhas, não é informada sobre os riscos de uma cirurgia de grande porte”, pontuou a ativista. (AM)