Levantamento realizado pela reportagem do Diário Regional junto às
prefeituras do ABC identificou que, em 2013, dos 10.891 nascimentos
ocorridos em hospitais privados até agosto, 87,5% foram por via
cirúrgica. A taxa é quase seis vezes maior do que a recomendação da
Organização Mundial de Saúde (OMS), que afirma que as cesarianas não
devem ultrapassar 15% do total dos nascimentos. Na rede pública, o
número é menor, mas ainda longe do ideal: 43,6% dos bebês nasceram em
cirurgias. A taxa total da região é de 65,2% de cesáreas, no total de
22.066 nascimentos. Em 2011, a taxa ficou em 64,68%.
O coordenador do Grupo de Trabalho (GT) Saúde do Consórcio
Intermunicipal do ABC e secretário de Saúde de São Bernardo, Arthur
Chioro, classificou a situação dos hospitais privados como epidêmica.
“Não tem nada, ciência, evidência cientifica, não tem boas práticas
médicas que possam justificar isso”, afirmou. Chioro destacou que,
apesar das prefeituras terem responsabilidade pela promoção da saúde em
todo o território, a capacidade de regulação sobre os serviços privados é
praticamente nenhuma. “A não ser os instrumentos de vigilância
sanitária e a capacidade de convencimento. Dialogar, chamar (os
gestores), identificar os problemas associados a essa epidemia de
cesariana”, completou.
“Porém, acho que, fundamentalmente, nosso maior papel é em relação à
conscientização da população, em particular das mulheres, da
revalorização do parto normal”, completou. Para o coordenador, em muitos
casos, são as próprias gestantes que já chegam aos consultórios
particulares e de convênios pedindo pela cesariana. “As mulheres
precisam compreender que um parto normal não é necessariamente um parto
com dor. Bem cuidado, bem assistido, só tem vantagens. Para o bebê que
nasce na hora certa e, portanto, tem menos prematuridade, e para a
mulher por que não é cirurgia”, explicou.
Documentário
Lançado este ano, o documentário O Renascimento do Parto, apresenta
diversos relatos de mulheres que foram submetidas a cesarianas, não por
opção, mas porque foram induzidas de alguma forma pelos médicos, com
alegações não baseadas em evidências científicas. Mães, pais e
profissionais que apoiam o parto normal relatam como essa experiência
pode ser traumática e a cesárea sem indicação médica clara é
classificada como violência obstétrica.
O professor de Obstetrícia da Faculdade de Medicina do ABC Mauro
Sancovski entende que essa afirmação é temerária. “Podemos acreditar que
em alguns casos o critério para realização da cesárea não obedeceu a
uma indicação de natureza estritamente obstétrica, mas podendo ser de
interesse mútuo do médico assistente e da mulher, desta forma o
consentimento desqualifica este rótulo”, pontuou.
“Em se tratando se hospitais privados, em muitos casos a gestante e o
médico que vai assisti-la já tiveram muitos contatos prévios no
pré-natal e a cesárea, mesmo quando eletiva, já foi acordada. Em casos
onde o médico optou sem as devidas justificativas e sem o aval da
gestante ou da parturiente, poderíamos sim, considerar como uma
violência obstétrica”, completou.
A Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge) e a Associação
Nacional de Hospitais Privados (Anahp) foram procuradas, mas se
abstiveram de comentar os dados.
* matéria de minha autoria, originalmente publicada no Diário Regional, no dia 19/10/2013. Link: http://www.diarioregional.com.br/2013/10/19/sua-regiao/minha-cidade/taxa-de-cesariana-na-rede-privada-do-abc-e-de-875/
segunda-feira, 7 de abril de 2014
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